sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Outro olhar

Outro dia, andava eu pelas ruas da cidade quando, de repente, me deparo com um ser - só assim podia eu definir - do outro lado da calçada, com suas calças desbotadas e uma aparência... uma aparência... como posso dizer... uma aparência... um tanto quan-to... estranha, digo assim.

De início, achei estranho, pois me olhava de uma maneira penetrante, que me envolvia de uma forma que não sabia eu explicar. Fui diminuindo meus olhos, franzindo já a testa, até conseguir analisá-la um pouco melhor. Feito. Era uma mulher, pude então reconhecer. Uma mulher que tinha por volta dos seus cinquenta e poucos anos; estava com aquela sua roupa suja - só depois pude reparar que também não levava calçados em seus pés - e seu cabelo... desgrenhado.

E aquele olhar ficou em minha mente. Passou terça... quarta... quinta; passou também a sexta. Já na manhã de sábado, quando me direcionava à famosa padaria do bairro, mais uma vez, para minha surpresa, os olhos penetrantes daquela misteriosa mulher me invadiam. Antes até que isso acontecesse, já caminhava em direção ao pão fresco do dia pensando naquela imagem estagnada em meu pensamento. (Que olhar poderia ser aquele!)

Dessa vez, então, um "Bom dia!" pude ouvir bem de fundo. Um "Bom dia!" diferente, com um quê de verdade, sabe... não aquele "Bom dia!" artificial, que damos a qualquer momento do dia a qualquer criatura que passe por nosso caminho. Não, aquele não era esse mesmo “Bom dia!”, ele era diferente, entrava pelos ouvidos com ar de desejo mesmo. [Mas por que um “Bom dia!” se o dia não parecia tão bom assim para ela?] E isso me intrigava. Parei. Pensei. Franzi a testa uma vez mais. Falei também: “Bom Dia!” E ela, então, sorriu. O meu não era tão quanto. Era muito menos que. Eu mesmo senti que era bem menos (que). Situação! Mas bastou.

Voltei a andar pelas ruas dessa mesma cidade. Um outro olhar. Minha percepção... não mais a mesma. O caminho, sim, esse era o mesmo. A padaria, os carros, homens, mulheres, ruas e “Bons dias!”. A diferença agora estava em mim. Mudei. Cresci.

sexta-feira, 22 de março de 2013

um

vazio no meio do



nada.




Mil coisas a fazer, a resolver, a viver. É como se não tivesse mais tempo para (um suspiro)
nada.



sexta-feira, 6 de abril de 2012

"Viva-me, por favor!"


O coração bate mais forte. Os batimentos estão se firmando e criando corpo a cada movimento. Incrível como o sentimento surge do simples olhar, das entreolhadas, das conversas, das tão temidas diferenças. Que medo delas, das diferenças! Elas nos arrebatam antes mesmo de que tenhamos qualquer certeza; elas simplesmente existem. Contudo, não se afobe, não há motivo de desespero - ou desesperança, quem sabe. São elas as maiores ferramentas, as melhores amigas. Diferença realmente é uma palavra que assusta. Mas não se engane. É exatamente daqui que surgem as maiores e melhores surpresas... Delas nasce a compreensão, talvez uma das mais necessárias virtudes numa vida a dois. Ah, o coração continua batendo forte. Não há explicação. O ritmo que se acalma é o mesmo que volta a acelerar, é o ritmo da canção, da canção que o próprio coração faz questão de entoar, canção que toca a alma, que vai muito além da quentura corpórea, do tato enlouquecedor, da paixão encarnada. É o amor. Que sentimento mais prazeroso! Que delícia vivê-lo! O Deus que nos deu esse dom - é, ele é um dom, algo divino, que vem lá dos céus para inundar nossas vidas -, é o mesmo Deus que nos faz capaz de amar cada dia mais, de crescer e renovar esse amor cada vez mais. É muito mais que simples palavras, com certeza muito mais do que o preto no branco pode expressar. É muito mais colorido, mais vivo, mais intenso, mais verdade. Verdade. Fidelidade. Companheirismo. Amizade. Cumplicidade. União. Coragem. O amor tem de tudo um pouco; é cheio de grandes nomes e repleto de puros sentimentos. É o amor! Sentimento que não se faz necessário explicar, já que a vontade de vivê-lo é grandiosamente maior. Simplesmente viver. É isso o que nos pede o amor: "Viva-me, por favor!" E o coração continua a bater. É avassalador, enigmático, inexplicável. Ele simplesmente é. O amor.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Viva o amigo!

Como é bom ter amigos! Eles nos alegram, nos consolam, nos divertem e nos completam. Os amigos são sempre bem-vindos, precisamos deles a qualquer momento. Quando a tristeza vem (e ela vem), o ombro amigo é o melhor amigo. Quando se quer sorrir, nada melhor que um amigo. Amigo é a palavra de todas as horas. "É um amigo meu da escola!", "É meu amigo da faculdade!", "É meu amigo de infância!" Como é bom ter amigos! Ser amigo é ser único, é ter importância, é ser amado; amigo é quem luta pela felicidade do outro, quem ri junto e quem junto também chora. Ah, os amigos! Eles são tão completos... Eles nos completam tanto!
Desde o ventre, somos cercados de amigos. Nascemos, e a luz nos é dada: temos amigos! Que luz! Luz nas horas mais difíceis, muitas vezes solução para os maiores problemas. Aí vem a escola: fazemos amigos. Depois, a faculdade: outros amigos. Trabalho: mais alguns. E assim a vida segue, nos trazendo pessoas importantes e essenciais em cada nova fase. Nunca estamos sozinhos, e nunca estaremos. Porque temos amigos. Amigos com quem podemos compartilhar todas as nossas alegrias e tristezas, todas as nossas vitórias e derrotas; amigos com quem podemos rir até chorar, e chorar até voltar a sorrir. Assim são os amigos em nossa vida, eles simplesmente existem e fazem de nós pessoas muito mais felizes. Como é bom ter amigos!

terça-feira, 31 de maio de 2011

Doce Loucura

Pobre Ana, sempre muito prestativa. Já estava cansada de tanta injustiça, injustiça externa e também interna, o que era ainda pior. Suas paixões eram enlouquecedoras; os amores, não valentes. O que falava mais alto era o medo de cair em uma repetida armadilha, daquelas que não se tem como escapar. Na verdade, o escape estava bem ao seu lado, mas ela corria para que não houvesse sequer uma chance de dar de cara com o precipício. Doce loucura. Tinha um alvo, mais alvo que as nuvens do céu, alvo como a leveza do algodão. Era lindo, com uns músculos salientes; sua boca despertava algo que Ana não podia entender; os pêlos que saíam de sua cabeça eram claros como a luz do dia, e seus olhos eram da cor do mel. Era angelical. Divino. Vindo dos céus. Uma paixão enlouquecedora e um amor amedrontador. Não tinha para onde fugir. Viveu louca. Morreu de medo.

domingo, 10 de abril de 2011

Lembrança da infância


Sorvete, bicicleta, árvore de natal, pijama, futebol, escola, perfume, La Mole, ônibus, carro, teto-solar, pai, unibanco, mãe, itaú, vó, desenho, praia, Manaus, avião, igreja, natação, inglês, espanhol, professora, dança, judô, Sandy&Junior, Raul Gil, obra, ar condicionado, retiro, passeio, controle remoto, patins, computador, música, pulseira, perdi, cordão, perdi, brinco, perdi, batom, vermelho, chocolate, brigadeiro, purê, mochila, quiabo, mangueira, piscina, terraço, rede, Disney, BeachPark, kombi, unha, sonho, pesadelo, xixi, aparelho, merenda, piano, microfone, irmãos, sobrinha, escada, Dalva, telefone, celular, internet.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Todo dia

Vinte e quatro horas. José sai para mais um dia de trabalho, o relógio despertou às seis. De pronto, sua consciência já diz que o dia vai ser cheio, uma vez mais. Haja trabalho, haja papel. Os ponteiros correm como se estivessem numa final de atletismo, nem sequer olham para trás. A hora do almoço passa e ele nem vê. Que fome. Ele precisa comer. O arroz misturado com a carne de ontem é o que o alimenta por algumas boas horas. Mais papeladas. Resolve assuntos burocráticos e volta para sua função. Nem percebe que dois outros funcionários acabaram de passar por ele. Eles sentam em sua sala. Ele nem percebe. Trabalho, trabalho, trabalho. O sinal da fábrica tocou, agora sim ele sabe que está na hora. Hora de voltar à casa. Janta. Futebol. Sono. Sonhos. O relógio desperta. Vinte e quatro horas.